Vamos continuar a ingerir pesticidas?

Sabe o que anda comer? É verdade que podemos ter uma alimentação cuidada e equilibrada, mas será necessariamente saudável? Comer a dose certa de legumes, frutas, hidratos e proteína será que basta? Quais os efeitos dos pesticidas na nossa alimentação?
Não queremos lançar o pânico, nem fazer afirmações generalistas, mas é sabido (e testado) que uma grande parte dos alimentos que consumimos contém vestígios de substâncias químicas utilizadas na agricultura e agro-indústria. Sobre estes, desconhece-se o real impacto na nossa saúde a longo prazo. O Glifosato, por exemplo, é uma substância presente nos herbicídas mais utilizados. Os químicos de síntese têm a capacidade de acompanhar a cadeia alimentar, pois não se decompõe facilmente, acabando por ser bio-acumulados pelos seres vivos que ocupam o topo da cadeia alimentar, no caso…nós!
Quais os efeitos, para a nossa saúde, de um consumo “regulado”, mas continuo, destes produtos químicos?
Achamos que estar informado é meio caminho andado para fazer escolhas mais acertadas ou, pelo menos, conscientes.
O que são pesticidas?
Em primeiro lugar, devemos distinguir os pesticidas químicos dos biológicos sendo que ambos têm por função mitigar, destruir ou repelir qualquer praga. Um pesticida biológico poderá ser um vírus, bactéria ou preparado à base de plantas com um período de persistência no meio ambiente muito curto. Já os pesticidas químicos de síntese são substâncias mais persistentes, ou misturas de substâncias, que poderão se manter presentes no meio ambiente durante longos períodos de tempo.
Os pesticidas são classificados de acordo com o tipo de organismo sobre a qual atuam, podendo ser utilizados para controlar fungos (Fungicidas), ervas daninhas (Herbicidas), insectos (Inseticidas) ou bactérias (Bactericidas), entre outros.
Todos, os pesticidas de síntese química utilizados no cultivo de alimentos, têm de ser aprovados pelas autoridades responsáveis, existem limites legais estabelecidos para a presença de vestígios destes resíduos nos alimentos e intervalos de segurança que têm de ser respeitados entre a aplicação e a colheita ou venda ao consumidor.
Em 2015, um estudo da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar revelava que 97,2%, das 84 mil amostras de alimentos analisadas por toda a Europa, continham vestígios de pesticidas. Apesar de apenas 5,6% destes, ultrapassarem os limites legais permitidos, não existe um conhecimento profundo dos efeitos de um consumo sinérgico e cumulativo de alimentos com vestígios de pesticidas de síntese química. Sabemos, contudo, que uma exposição direta a estes produtos provoca efeitos imediatos e conhecemos também quais as consequências da sua utilização para o ambiente. Degradação dos solos, contaminação da água, perda de biodiversidade, etc.
Um argumento comum é que estes produtos são essenciais para alimentar um mundo cada vez mais populoso. Mas, a verdade é que também aqui poderá existir uma falsa questão. Não será mais importante combater o desperdício alimentar que é da ordem dos milhões e milhões de toneladas de alimento? Não estaremos a hipotecar a segurança alimentar das gerações futuras? Os pesticidas podem até ser um “remédio” barato e eficiente, mas são uma solução de curto prazo, pouco sustentável e que afecta visivelmente o sistema ecológico com consequências, ainda muito pouco conhecidas, sobre a nossa saúde.
Hoje em dia, grande parte da população tem já o poder de escolher e decidir o que quer ou não comer. Teremos menos dúvidas quanto ao impacto dos alimentos na nossa saúde, quando soubermos exactamente o que estamos a ingerir. De preferencia, optar por alimentos isentos de pesticidas como é o caso dos de produção biológica ou cultivados por nós de forma ecológica.
Qual é a alternativa aos pesticidas?
A Agricultura moderna tem por hábito sobrepor-se à Natureza. Controlar, alterar e, em muitos casos, destruir o ecossistema é prática comum. As monoculturas convencionais são instáveis, exigem o uso de pesticidas, consomem demasiados recursos e deixam marcas profundas. A alternativa está na implementação de práticas e processos de Agricultura Biológica. Não só como forma de salvaguardar a saúde do consumidor, mas sobretudo para assegurar a sustentabilidade do sistema produtivo atual. Optando pelo uso de técnicas de controlo e prevenção de pragas com recurso a fito fármacos naturais, utilizando fertilizantes biológicos, promovendo a biodiversidade, como elemento chave na preservação da fertilidade dos solos estaremos não só a melhorar a vida no planeta como a assegurar a sua sustentabilidade para gerações futuras.
Esta solução é acusada, por alguns, de ser inviável para um mundo industrializado e global, mas essa pode ser uma falsa questão. Comparando a produtividade das monoculturas convencionais com as monoculturas biológicas, podemos realmente apontar um défice de produtividade de até 20%. Mas, se tivermos em conta as policulturas biológicas, este diferença baixa para 9%.
Na realidade, a competitividade desta alternativa pode melhorar se aplicarmos o conhecimento ecológico que já temos e fizermos a pesquisa científica adequada em prol de um sistema que não só é produtivo e rentável como também é ambientalmente sustentável!
Aqui entra o papel do consumidor. Esta alteração de mentalidade no sector agrícola e de distribuição, só acontecerá quando a demanda o exigir. Ao nível político há muito a ser feito, mas para uma mudança gradual, transversal e efetiva temos que fazer a nossa parte individualmente. Aos que, felizmente, podem optar: consideremos cada ida ao supermercado como um voto e tomemos decisões e opções de compra conscientes e consequentes.
