Como a agricultura urbana se tornou numa tendência, em 4 pontos chave.

Falemos de agricultura urbana, uma tendência que nasce do crescente interesse em alimentos provenientes da agricultura biológica. É estranho falarmos de agricultura biológica como uma tendência, quando há relativamente pouco tempo esta era a única forma de os alimentos nos chegarem ao prato — tanto que não era raro vir da nossa própria horta. Com a industrialização, com a economia global, com a distribuição em massa, tudo mudou. Hoje, temos qualquer tipo de alimento disponível o ano todo, mesmo que fora de sua época ou país de origem. Apesar de representar ainda uma percentagem muito pequena da agricultura global produzida em todo o mundo, a agricultura biológica tem crescido de forma sistemática, sem que tenha havido um momento decisivo a que se possa associar esta nova tendência. Ainda assim, há quatro pontos chave a considerar. É sobre eles que refletimos a seguir.
A agricultura biológica como forma de comer melhor.
Estamos cada vez mais informados e somos cada vez mais criteriosos na escolha da comida que ingerimos. Esta tendência da alimentação saudável está naturalmente ligada à da agricultura biológica, até porque hoje já sabemos como é que funciona a vertente industrializada. A produção de larga escala nasce em monoculturas, onde são aplicadas técnicas de tratamento que são completamente contrárias à lógica natural do crescimento saudável dos alimentos. É mediante a utilização de produtos químicos de síntese — autorizados e regulados, mas cujos efeitos para a nossa saúde e do planeta são menosprezados — que estes alimentos crescem, sobrevivem às pragas (que proliferam em ecossistemas desregulados) e aos milhares de quilómetros que percorrem até chegarem ao supermercado. Com produtos de agricultura biológica, tornamo-nos mais saudáveis, podendo viver mais e melhor. E isto tem outros impactos sociais: a proliferação de doenças crônicas que se relacionam cada vez mais ao estilo de vida (e à alimentação) sobrecarrega hoje em dia os sistemas de saúde. É esta consciência que nos faz repensar os alimentos que consumimos.
Agricultura biológica como via para atingir um mundo mais sustentável.
Apesar da alimentação saudável ser o fator predominante para o aumento da procura de produtos biológicos, assistimos também a um despertar da consciência ecológica que, embora em menor grau, pode também ter contribuído para este fenômeno. Ao ser mais local, ao respeitar os critérios da sazonalidade, a terra e os ciclos naturais do planeta, a agricultura biológica deixa de representar um fator negativo na pegada ecológica, ao contrário dos métodos convencionais. Basta pensar na destruição de florestas, dos solos ou na poluição dos lençóis de água, pela infiltração dos químicos. Além dos quilómetros que os alimentos viajam e do impacto que esse transporte tem na poluição da atmosfera. Há que pensar, também, na sustentabilidade social e económica: com a agricultura biológica promovem-se os pequenos produtores, contribui-se para o desenvolvimento de uma comunidade local, gerando até mais postos de trabalho. Além disso, se falamos de agricultura biológica urbana, falamos não só de cultivar a nossa própria comida como de alterar a paisagem das cidades.
Como é que queremos viver no futuro?
A pandemia da COVID-19 trouxe coisas muito más, mas tende a ser nestes momentos de sofrimento que paramos para refletir. Uma das coisas boas que esta crise de saúde pública trouxe foi tempo para pensar e questionar. Qual é o mundo que queremos para amanhã? Queremos viver num mundo mais individual ou de cooperação e de solidariedade? Além disso, esta pandemia é mais uma prova de que continuamos a agredir e desregular o ecossistema do planeta e isso terá sempre consequências. Mas, por mais idílica, ou até utópica, que seja a nossa visão, não podemos mudar repentinamente. Tudo isto leva tempo, muito tempo, e obriga a alterações estruturais muito profundas, desde os líderes, às políticas implementadas que nos levam a modos de vida que funcionam a ritmos desenfreados. Mas o primeiro passo é esse: parar e pensar.
A agricultura urbana em nossas casas.
Hoje não é raro termos vegetais e frutas biológicas, cultivados por pequenos agricultores que nos chegam a casa em bonitos cabazes carregados de cor. Apesar de a produção em massa ainda ser a predominante, há já uma pequena parte do terreno a ser dominada por produtores de pequena escala, que passam também a servir a população. Por outro lado, temos também a agricultura doméstica, um movimento que está a crescer e que deixa que sejam as próprias famílias a cultivarem o seu alimento — ou, pelo menos, parte dele. Seja num jardim, num terraço ou numa varanda, hoje valoriza-se a experiência de cuidar e de ver crescer os alimentos. Queremos ligar-nos mais à terra e sentir os benefícios desta relação. Queremos sentir-nos seguros, num mundo que está cada vez mais dependente da grande distribuição. E, do ponto de vista da agricultura urbana, soma-se outro fator: cultivar é um processo de desenvolvimento interno. O contacto com a natureza aproxima-nos do nosso habitat natural e, consequentemente, traz-nos equilibrio, bem-estar e resiliência.
